Livestock Research for Rural Development 28 (12) 2016 Guide for preparation of papers LRRD Newsletter

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Desempenho de vacas leiteiras mestiças suplementadas a pasto no período de transição seca-águas

W S de Melo, A S C Véras1, D K de A Silva2, M de A Ferreira1, K P Pereira3, A M de P Mendes4, L M G Barreto1, J S de Almeida5, A C A Fotius1, M L M W Neves1 e C C de F Monteiro1

Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Pernambuco, Campus de Belo Jardim, Pernambuco, Brasil.
1 Universidade Federal Rural de Pernambuco, Departamento de Zootecnia, Recife, Pernambuco, Brasil
ligiamgbarreto@gmail.com
2 Universidade Federal Rural de Pernambuco, Unidade Acadêmica de Garanhuns, Pernambuco, Brasil
3 Universidade Federal de Alagoas, Centro de Ciências Agrárias, Rio Largo, Alagoas, Brasil
4 Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sertão Pernambucano, Campus de Ouricuri, Pernambuco, Brasil
5 Universidade Federal do Tocantins, Escola de Medicina Veterinária e Zootecnia (EMVZ) - Campus Araguaína, Tocantins, Brasil.

Resumo

Objetivou-se avaliar a ingestão e a digestibilidade aparente de matéria seca e de seus constituintes e o desempenho produtivo de vacas mestiças suplementadas a pasto no período de transição seca-águas. Utilizaram-se oito vacas tricross (Gir/Holandês/Pardo Suíço), com produção média de 15 kg/dia e peso corporal médio de 500 kg, distribuídas em dois quadrados latinos 4x4. As vacas foram avaliadas por 60 dias, pastejando em área com predominância de capim Brachiaria decumbens Stapf disponibilidade média de 4,2 toneladas de matéria seca por hectare. Os tratamentos experimentais foram quatro suplementos: silagem de milho + concentrado; palma + concentrado; silagem de milho + farelo de soja; e palma + farelo de soja.

O consumo de pasto foi maior para vacas alimentadas com suplementos contendo silagem de milho. Não houve diferença (P>0,05) na ingestão de suplementos, mas a digestibilidade da fibra em detergente neutro foi maior para os suplementos que continham silagem de milho. A produção de leite foi menor nas vacas que consumiram palma + farelo de soja. Os suplementos com silagem de milho promovem efeito aditivo aos nutrientes do pasto, e efeito substitutivo quando contêm palma forrageira. O uso dos suplementos contendo concentrado elevam a produção de leite de vacas mestiças.

Palavras chave: Brachiaria decumbens, concentrado, desempenho, palma forrageira, silagem de milho



Performance of crossbred lactating dairy cows on pasture-based system during the dry-water transition season

Abstract

The objective was to evaluated the intake and apparent digestibility of nutrients and milk production of crossbred lactating dairy cows on pasture-based system during the dry-water transition season. Eight crossbred cows (Gyr/Holstein/Brown Swiss) with an average milk production of 15 kg/day and an average live weight of 500 kg, were distributed in two latin squares. The experimental period lasted 60 days (four periods, each 15 days). Four supply treatments were study: corn silage + concentrate; spiniless cactus + concentrate; corn silage + soybean meal, and spineless cactus + soybean meal. The pasture area with Brachiaria decumbens Stapf predomination. Corn silage as supply performs like addictive effect on pasture nutrients, on the other hand spineless cactus as supply performs like substitutive effect. The apparent digestibility of the neutral detergent fiber and non-fiber carbohydrate differ from the use of forage cactus or corn silage. The use of the supplies containing concentrate elevates the milk production.

Key words: Brachiaria decumbens, concentrate, corn silage, spineless cactus, performance


Introdução

A maior parte do rebanho de bovinos leiteiros de Pernambuco é criada em condições de pastejo, sendo a baixa produtividade da atividade atribuída, em parte, à variação na disponibilidade de forragens, reflexo de carências nutricionais dos animais. Por outro lado, o uso de suplementos com o objetivo de atender à demanda nutricional dos rebanhos leiteiros é uma boa alternativa para maximizar a produção de leite e minimizar a diferença obtida no período das águas.

Segundo Detmann et al (2014), gramíneas tropicais raramente oferecem equilíbrio na disponibilidade de nutrientes para bovinos, os quais geralmente apresentam limitações nutricionais que afetam a ingestão e digestão dos nutrientes. Assim, a identificação do déficit nutricional, associada à utilização de um programa de suplementação adequado, é apontada como alternativa para evitar restrições à produção animal.

É importante considerar o alto custo de concentrados, sendo a conservação de forragens (silagens e fenos) e a utilização da palma forrageira alternativas muito utilizadas no nordeste do Brasil, as quais vêm suprindo a deficiência nutricional dos rebanhos nos períodos secos e/ou de transição.

A silagem de milho é bastante utilizada na alimentação de ruminantes, apresentando superioridade em relação a outras silagens, como as de sorgo granífero e sacarino (Nascimento et al 2008). A palma forrageira apresenta alta aceitabilidade e grandes quantidades podem ser consumidas voluntariamente (Ferreira et al 2009). No entanto, embora seja uma excelente fonte de carboidratos não fibrosos, apresenta baixos teores de fibra em detergente neutro fisicamente efetiva e teor de proteína bruta insuficiente para o adequado desempenho animal, o que faz necessária sua associação com outros alimentos (Wanderley et al 2012).

Objetivou-se avaliar diferentes suplementos quanto ao consumo e a digestibilidade da matéria seca e de seus constituintes, produção de leite e eficiência produtiva de vacas leiteiras mestiças em pastagem de capim Brachiaria decumbens Stapf, no período de transição seca-águas.


Material e métodos

O experimento foi realizado na Fazenda Riacho do Papagaio, situada no município de São João, estado de Pernambuco, Brasil pertencente à mesorregião fisiográfica do Agreste, integrante da bacia leiteira pernambucana, durante o período de transição seca-águas. Para tanto, foram utilizadas oito vacas mestiças (tricross), sem padrão genético definido (Holandês/Gir/Pardo Suíço), com peso corporal (PC) médio de 500 kg, três meses de lactação e produção média de 15 kg/dia de leite.

O período experimental teve duração de 60 dias, divididos em quatro sub-períodos de 15 dias cada, sendo dez para a adaptação dos animais aos suplementos e cinco para coleta de dados e de amostras; no período de transição seca-águas. Durante a execução do experimento foram registradas as seguintes precipitações pluvimétricas: um; sete; 81 e 210 mm, no primeiro, segundo, terceiro e quarto períodos, respectivamente.

Foi utilizada área de pastagem de 53 hectares, com disponibilidade média de 4,23 toneladas/hectare e altura média de 21,5 cm, e taxa de lotação de 1 UA/hectare. A espécie forrageira predominante foi Brachiaria decumbens Stapf., que constituía 92% da área total.

Foram utilizados quatro suplementos: silagem de milho com concentrado (S + C); palma forrageira com concentrado (P + C); silagem de milho com farelo de soja e ureia (S + SU); e palma forrageira com farelo de soja e ureia (P + SU). A espécie de palma forrageira utilizada foi Opuntia fícus indica, Mill. Os suplementos foram fornecidos na forma de mistura completa e o sal mineral em quantidade fixa de 100 g/dia.

As dietas totais foram formuladas segundo o NRC (2001), para atender às exigências de vacas pesando 500 kg e produção média diária de 15 kg de leite, corrigida para 4% de gordura e 3% de proteína verdadeira. Para tanto, foi considerada ingestão de pasto de 1,5% do PC, pressupondo-se teores de 5% de proteína bruta (PB) e 55% de nutrientes digestíveis totais (NDT). O déficit observado foi balanceado nos suplementos. A proporção dos ingredientes e a composição química dos suplementos são apresentadas na Tabela 1.

Tabela 1. Proporção dos ingredientes e composição química dos suplementos

Ingredientes

Suplementos

S + C

P + C

S + SU

P + SU

Proporção dos ingredientes dos suplementos (%)

Concentrado1

62,7

53,4

-

-

Farelo de soja

-

-

26,5

20,3

Palma

-

45,2

-

77,2

Silagem de milho

36,4

-

71,1

-

Ureia

0,93

1,36

2,40

2,54

Composição química dos suplementos (g/kg)

Matéria seca2

472

220

336

143

Matéria orgânica3

944

911

940

906

Proteína bruta3

218

201

235

198

Nitrogênio não proteico3

29,5

32,3

44,6

43,5

Extrato etéreo3

38,1

34,1

22,3

20,0

Fibra em detergente neutro3

379

293

393

242

Fibra em detergente ácido3

240

182

219

130

Carboidratos não fibrosos3

318

427

304

501

Nutrientes digestíveis totais3, 4

726

722

643

658

1 Concentrado: composto por 35% farelo de soja, 20% farelo de algodão, 15% fubá de milho e 30% farelo de trigo;
2 g/kg de matéria natural;
3 g/kg de matéria seca;
4 NDT estimado;
S + C = silagem de milho com concentrado;
P + C= palma com concentrado;
S + SU = silagem de milho com farelo de soja e ureia

PF + SU= palma com farelo de soja e ureia

A palma forrageira foi picada manualmente em pequenos pedaços para permitir melhor aderência aos outros ingredientes. A silagem foi retirada do silo no momento do fornecimento, para evitar fermentações indesejáveis quando em contato com o oxigênio.

As vacas foram ordenhadas manualmente duas vezes ao dia, às 4:00 e às 15:00 horas. Concomitante à ordenha da manhã, bem como 30 minutos antes da ordenha da tarde, os animais eram suplementados (50% pela manhã e 50% à tarde). Das 6:00 horas até às 13:30 horas, e após a segunda ordenha até às 3:30 horas, as vacas permaneciam no pasto. A suplementação ocorreu em baias individuais, em que água era permanentemente disponível.

A amostragem do leite foi realizada no quarto e quinto dias dos períodos de coleta, sendo 50% em cada ordenha. Para correção da produção de leite para 4% de gordura (PLCG) utilizaram-se a equação sugerida pelo NRC (2001): PLCG % = 0,4(kg leite) + 15 (kg de gordura). A eficiência alimentar foi obtida pela relação entre a produção média de leite e o consumo médio de MS, ambos em kg.

As amostras dos suplementos, pasto (extrusa) e sobras foram coletadas do 11o ao 15o dias de cada período. As fezes dos animais foram retiradas diretamente na ampola retal, nos quatro últimos dias de cada período de coleta e no primeiro dia do período seguinte, em horários diferentes (4h e 13:30h). Ao final de cada período, procederam-se à homogeneização das amostras de fezes e sobras, obtendo-se uma amostra por período e por animal. Para coleta da extrusa foi utilizada uma vaca mestiça, adulta, fistulada no esôfago, com peso vivo de 350 kg. A coleta foi realizada pela manhã, às 7:00 horas, durante 40 minutos, após jejum de aproximadamente 12 horas, com auxílio de bolsas coletoras com fundo telado, adaptadas em torno da fístula esofágica. Posteriormente, todas as amostras (suplementos, extrusa, sobras e fezes) foram devidamente acondicionadas em sacos plásticos, identificadas e congeladas à -15oC, para posteriores análises.

O processamento e análises dos alimentos, fezes e sobras foi realizado no Laboratório de Nutrição Animal do Departamento de Zootecnia da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE). As amostras foram pré-secas em estufa de ventilação forçada à 55ºC por 72 horas e moídas em moinho com peneira de 1 mm para as análises bromatológicas e com peneira de 2 mm para a avaliação da digestibilidade “in situ”.

As análises de matéria seca (MS), proteína bruta (PB), extrato etéreo (EE), matéria mineral (MM), e fibras em detergente neutro (FDN) e detergente ácido (FDA) foram efetuadas conforme Detmann et al (2012). Os teores de carboidratos totais (CHT) foram obtidos de acordo com Sniffen et al (1992): CHT= 100 - (%PB + %EE + %MM); enquanto os de carboidratos não-fibrosos (CNF) foram estimados de acordo com Hall (2000): CNF = 100 - [(%PB - %PBu +%U) + %EE + %MM + %FDN], onde %PBu = teor de PB da ureia e %U = é o teor de ureia em %MS. O consumo de nutrientes digestíveis totais (CNDT) da dieta foi calculado segundo Sniffen et al (1992): CNDT = CPBD + CCHTD + (2,25 x CEED), em que: CPBD = consumo de proteína bruta digestível, CCHTD = consumo de carboidratos totais digestíveis e CEED = consumo de extrato etéreo digestível.

A estimativa da ingestão de matéria seca (CMS) foi obtida pela equação: CMS (kg/dia) = [(EF - EFS) / (1 – DIVMS)] + CMSS, em que: EF = excreção fecal diária (kg/dia); EFS = contribuição de massa fecal do suplemento (kg/dia); DIVMS = digestibilidade “in vitro” da matéria seca do pasto; CMSS = consumo de matéria seca de suplemento (kg/dia).

A EF foi estimada com o uso de lignina isolada purificada e enriquecida de Eucaliptus grandis (LIPEÒ), do 10º ao 15º dias de cada período, às 14 horas. A EFS foi obtida por meio da diferença entre a EF e o produto da contribuição percentual de matéria seca da palma forrageira, silagem de milho, concentrado e/ou farelo de soja pelas respectivas digestibilidades “in vitro”. O fornecimento do LIPEÒ aos animais foi estabelecido do 10º ao 15º dias de cada período (uma cápsula diariamente às 14 horas). A análise do indicador foi realizada segundo a técnica de espectroscopia infravermelha, utilizando-se espectrofotômetro de infravermelho com transformada de Fourrier Varian 800 FT-IR (Saliba 2005).

O delineamento experimental utilizado foi quadrado latino 4 x 4, com dois quadrados simultâneos. Os dados foram submetidos à análise de variância e as médias comparadas pelo teste Tukey, ao nível de 5% de probabilidade, utilizando-se o programa SAS, versão 9.2.


Resultados e discussão

O consumo de matéria seca (MS, kg/dia) oriunda do pasto foi menor quando as vacas foram suplementadas com palma forrageira (P<0,05), diferente do que ocorreu com a ingestão de MS do suplemento isoladamente (kg/dia), em que não houve diferença significativa entre os suplementos oferecidos (P>0,05). Quando analisados de forma conjunta (pasto + suplemento), pode-se observar que a ingestão de MS total (CMST, kg/dia) foi maior (15,28 kg/dia) para as vacas suplementadas com silagem de milho+ concentrado e, menor para aquelas cujo suplemento foi a palma forrageira + concentrado (13,14 kg/dia), semelhantemente ao que ocorreu com o CMST (g/kg de PC), carboidratos totais (CCT, kg/dia) e nutrientes digestíveis totais (CNDT, kg/dia). No geral, o consumo das vacas suplementadas com silagem + soja e ureia; e palma + soja e ureia não diferiram (P>0,05) dos demais suplementos (Tabela 2).

Tabela 2. Consumo, produção de leite e eficiência alimentar de vacas mestiças em lactação suplementadas a pasto

Item

Suplementos

CV

p

S + C

P + C

S + SU

P + SU

Consumo (kg/dia)

Pasto

7,50a

4,62b

7,57a

5,99ab

27,5

0,02

Suplemento

7,78

8,52

7,24

7,80

14,6

0,57

Matéria seca total

15,3a

13,1b

14,8ab

13,8ab

9,34

0,03

Proteína bruta

2,44ab

2,13b

2,47a

2,15ab

9,72

0,01

Fibra em detergente neutro

8,05a

5,59b

7,98a

5,96b

15,7

0,001

Fibra em detergente ácido

4,12a

2,18b

4,00a

2,75b

12,3

0,001

Carboidratos totais

11,3a

9,75b

11,1ab

10,4ab

9,32

0,03

Carboidratos não fibrosos

3,07b

4,03a

2,94b

4,31a

13,2

0,001

Nutrientes digestíveis totais

10,6a

9,26b

10,5ab

9,65ab

8,50

0,02

Consumo (g/kgPC)

Matéria seca total

30,8a

26,5b

29,6ab

27,7ab

9,59

0,03

Fibra em detergente neutro

15,7a

10,9b

15,5a

11,6b

15,69

0,001

Produção de leite e eficiência alimentar

Produção de leite - PL (kg/dia)

17,5a

17,9a

16,2ab

15,0b

7,94

0,004

PL corrigido para gordura 4% (kg/dia)

17,8a

17,1a

16,4ab

14,8b

8,20

0,004

Eficiência alimentar

1,18ab

1,32a

1,11b

1,06b

10,7

0,01

Médias seguidas de letras iguais na linha não diferem (P>0,05) pelo teste Tukey;
S + C = silagem de milho com concentrado;
P + C= palma com concentrado;
S + SU = silagem de milho com farelo de soja;
P + SU= palma com farelo de soja e ureia

A menor ingestão de matéria seca total observada nas vacas submetidas ao suplemento palma + concentrado foi reflexo do menor consumo de pasto, que pode ser devido à elevada concentração de NDT (72,2%) desse suplemento, além de ser composto por ingredientes (palma e concentrado) ricos em CNF, que são prontamente fermentáveis. A alta disponibilidade de carboidratos prontamente fermentáveis no rúmen pode levar a modificações nas condições ruminais, como redução do pH, que promove inibição da atividade dos microrganismos fibrolíticos (Oliveira et al 2013), resultando em diminuição da digestibilidade da fibra (Tabela 3), com aumento no tempo de retenção do volumoso no rúmen, limitando a ingestão por fatores físicos. Por outro lado, o aumento no CCNF leva a maior produção de propionato (Allen et al 2009) que, aliada à maior concentração de NDT, pode limitar o consumo por fatores de ordem metabólica. Desta forma, pode-se inferir que houve efeito aditivo aos nutrientes do pasto quando os animais foram alimentados com suplementos que continham silagem de milho, e substitutivo com os suplementos com palma forrageira.

Os consumos de fibra em detergente neutro (CFDN, kg/dia e g/kg de PC) e fibra em detergente ácido (CFDA, kg/dia) foram maiores para as vacas alimentadas com suplementos contendo silagem, independentemente de estarem associados ao concentrado ou a soja e ureia (Tabela 2). Este resultado foi ocasionado pela maior ingestão de pasto (P<0,05) pelas vacas que receberam os suplementos contendo silagem de milho, associada a maiores concentrações de FDN e FDA dos suplementos, conforme
Tabela 1.

O consumo de proteína bruta (CPB) foi menor (P<0,05) quando se utilizou o suplemento palma + concentrado comparado com o silagem + soja e ureia. Já os CPB com o fornecimento de silagem + concentrado e palma + soja e ureia não diferiram dos contendo os demais suplementos (Tabela 2).

Considerando os teores de proteína bruta (PB) da extrusa observaram-se variação do primeiro ao quarto períodos experimentais, de modo que os percentuais observados foram de 9,3; 7,1; 11,0 e 11,5 % com base na MS, para o 1º, 2º, 3º e 4º períodos, respectivamente. Isto implica que houve melhoria na qualidade do pasto decorrente do aumento da precipitação pluviométrica nos dois últimos períodos experimentais, resultando em produção de leite (PL) acima da média observada no início do experimento (15 kg/dia); exceto para as vacas do tratamento palma + soja e ureia, que mantiveram a média inicial (Tabela 3). Essa menor produção de leite obtida com o suplemento P + SU, comparada aos demais pode ter sido influenciada pela relação proteína verdadeira:nitrogênio não proteico (NNP), uma vez que o suplemento palma + farelo de soja e ureia proporcionou CMST, CPB e CNDT semelhantes aos grupos que consumiram dietas com os suplementos silagem de milho + concentrado e palma + concentrado.

Tabela 3. Digestibilidade aparente da dieta de vacas mestiças suplementadas a pasto

Digestibilidade
aparente (%)

Suplementos

CV

p

S + C

P + C

S + SU

P + SU

Matéria seca

70,7a

70,2ab

71,1ab

69,2b

1,25

0,01

Matéria orgânica

71,0

72,1

72,9

71,8

3,00

0,78

Proteína bruta

76,6

77,5

78,4

79,7

3,78

0,56

Fibra em detergente neutro

71,3a

63,7b

72,6a

62,1b

4,58

<0,001

Carboidratos totais

73,3

74,03

73,86

74,64

2,23

0,69

Carboidratos não fibrosos

77,0b

84,5a

76,8b

84,4a

3,54

0,001

Médias seguidas de letras iguais na linha não diferem (P > 0,05) pelo teste Tukey;
S + C = silagem de milho com concentrado;
P + C= palma com concentrado;
S + SU = silagem de milho com farelo de soja e ureia;
P + SU= palma com farelo de soja e ureia

Deste modo, a relação proteína verdadeira:nitrogênio não proteico parece ter prejudicado o desempenho dos animais que receberam suplementos contendo soja + ureia, sendo que este efeito foi mais acentuado no suplemento palma + farelo de soja e ureia, cujas PLCG 4% de gordura foram menores, quando comparadas às dos suplementos concentrados; e de menor intensidade para o suplemento silagem de milho + farelo de soja e ureia, cujas produções não diferiram das dos demais tratamentos.

A menor PL observada no tratamento palma + farelo de soja e ureia pode ser devido ao excesso de proteína degradada no rúmen, que pode ter desviado, pelo menos, parte da energia de produção para síntese e excreção de ureia. Como mecanismo de defesa, o organismo de ruminantes tenta formar ureia a partir da amônia, para assim ser excretada; no entanto, para síntese e excreção de ureia são gastos três moléculas de ATP (Moraes et al 2012).

A maior quantidade de NNP nos suplementos que continham soja e ureia (Tabela 1) pode ter interferido no metabolismo da glicose pela glândula mamária para a produção de lactose. Noro e Wittwer (2012) relatam que em condições de hiperamonemia, o pâncreas diminui a secreção de insulina e os tecidos sensíveis à insulina, como a glândula mamária, reduzem a captação de glicose.

Por outro lado, os suplementos com concentrado podem ter proporcionado maior aporte de glicose à glândula mamária para a síntese de lactose, proporcionando maior PL, uma vez que a lactose serve como regulador osmótico para a absorção de água pela glândula mamária (Whelan et al 2012). Contrariamente aos resultados obtidos no presente trabalho, Santistevan Gutierrez (2014) não observou aumento na produção de leite por vacas mestiças suplementadas com concentrado durante período de transição águas-seca.

A eficiência alimentar foi maior (P<0,05) para vacas que consumiram palma + concentrado, quando comparada com os resultados dos tratamentos contendo silagem ou palma com soja e ureia; contudo, a resposta para silagem de milho + concentrado não diferiu (P>0,05) da dos demais tratamentos (Tabela 2).

A digestibilidade aparente de matéria seca (DAMS) foi menor (P<0,05) no suplemento palma + farelo de soja e ureia em relação à observada com silagem de milho + concentrado; porém as DAMS não diferiram estatisticamente das obtidas nos demais (P>0,05). Não houve diferença entre os suplementos ofertados (P>0,05) para as digestibilidades aparentes de matéria orgânica (DAMO), proteína bruta (DAPB) e carboidratos totais (DACHOT) (Tabela 3).

Os suplementos contendo silagem de milho apresentaram maior (P<0,05) digestibilidade aparente da fibra em detergente neutro (DAFDN), enquanto que nos alimentos com palma forrageira observou-se maior (P<0,05) digestibilidade dos carboidratos não-fibrosos (DACNF). Estes resultados podem ser devido às modificações no ambiente ruminal. Detmann et al (2005) relataram que dois efeitos distintos podem ser responsáveis pela redução na degradação ruminal da fibra em função da adição de CNF, um é o “efeito pH” onde reduções significativas no pH ruminal são responsáveis pela inibição parcial da degradação fibrosa; enquanto que o “efeito concentrado”, é atribuído à competições por nutrientes essenciais entre microrganismos fibrolíticos e aqueles que degradam CNF, os quais se pronunciam em meios deficientes em nitrogênio. Segundo Oliveira et al (2013), aumento nos teores dos CNF podem dificultar a ação das bactérias celulolíticas na digestão da FDN, o que acarreta redução da respectiva digestibilidade. A qualidade do pasto, aliada à alta digestibilidade observada nos nutrientes da dieta total (Tabela 3), possivelmente explicam as altas DAFDN observadas, com destaque para os suplementos contendo silagem de milho (média de 71,95%).


Conclusões


Agradecimentos

À Universidade Federal Rural de Pernambuco e à Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia do Estado de Pernambuco (FACEPE) pelo apoio financeiro. À Fazenda Riacho do Papagaio por disponibilizar os animais e instalações para condução deste trabalho.


Referências

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Received 11 July 2016; Accepted 18 October 2016; Published 1 December 2016

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