Citation of this paper |
Durante um período experimental de 70 dias, a produção e características físico-químicas do leite foram medidas para verificar o efeito da substituição do milho desintegrado com palha e sabugo pelo milheto, nas proporções de 0, 33 e 67%. Nove cabras da raça Alpina com idade entre dois e quatro anos, da 2a a 4a ordem de parição e entre o 10o e 20o dia de lactação, foram utilizadas. O experimento foi conduzido segundo um delineamento de blocos casualizados com três tratamentos e nove repetições, sendo a variável de blocagem a produção de leite. A análise de variância não mostrou efeito significativo (P<0,05) entre os tratamentos, mostrando que a substituição do MDPS pelo milheto grão, na proporção de até 67% pode ser recomendada.
During an experimental period of 70 days, the production and physico-chemical characteristics of milk were measured in nine Alpine goats, aged between two and four years, in 2nd to 4th lactation, and between the10th and 20th days of lactation, to verify the effect of substitution of ground ear maize by millet in the ratio of 0, 33 and 67%. The design was a randomized block with three treatments and three replications.
Milk production did not differ between treatments therefore it is concluded that ground ear maize can be replaced by millet up a level of 67%.
O milheto (Pennisetum.glaucum) constitui uma alternativa para rações, principalmente na região Centro-Oeste do Brasil, onde a oferta de grãos é crescente devido à produção obtida na safrinha. Em função das características fisiológicas e do valor nutritivo, a cultura do milheto tende a crescer de forma significativa nas regiões dos cerrados porque esta forrageira se adapta com certa facilidade em solos ácidos e de baixa fertilidade. Embora o milheto apresente um valor energético 92% da energia do milho, os teores de proteína bruta e de aminoácidos essenciais são superiores aos de outros cereais. Seu valor comercial, aproximadamente 40% do preço do milho, constitui uma alternativa bastante viável no sistema de produção de leite.
O milheto (Pennisetum glaucum (L.) é uma forrageira
anual de verão, podendo ser utilizada tanto para
produção de forragens, bem como para grãos. Outro
fator determinante do crescimento do cultivo, relaciona-se ao
advento do sistema de plantio direto na região, utilizando-se
a cultura de milheto para produção de cobertura morta do
solo, tendo em vista a alta resistência ao stress hídrico
apresentado por esta gramínea.
Segundo Gates et.al (1995), o milheto é cultivado em mais de 27 milhões de hectares em todo mundo, sendo em maior escala para fins de produção de grãos na África e na Índia. De acordo com os relatos de Andrews and Kumar (1992), em revisão sobre o uso do milheto em rações para animais, os experimentos que utilizaram este grão como alimento para aves, suínos, ruminantes e outras espécies, deixou bastante clara a sua utilidade para formulação de rações, bem como o seu valor nutritivo, que em muitas vezes é semelhante ou até mesmo superior ao observado para alimentos tradicionalmente utilizados em rações, como milho, sorgo, cevada e triticale.
Quando utilizado nas dietas em níveis
crescentes de substituição ao milho tende a promover
redução no consumo total de matéria seca (Terrill et
al 1998).
Testes de alimentação com bovinos,
suínos e particularmente com aves mostraram que o grão de
milheto é, pelo menos, equivalente ao milho e, geralmente
superior ao grão de sorgo quando utilizado na
composição de rações, em função de
seus adequados níveis de energia e proteína (Hill et al
1996). Embora o milheto apresente um valor energético 92% da
energia do milho, os teores de proteína bruta e de
aminoácidos essenciais são superiores aos de outros
cereais.
O presente trabalho foi conduzido com o objetivo de avaliar a substituição do milho na forma de rolão (MDPS) - milho desintegrado com palha e sabugo - pelo milheto grão na dieta de cabras leiteiras com baixo potencial de produção.
O experimento foi desenvolvido no Setor de Caprinos e Ovinos do Departamento de Produção Animal da Escola de Veterinária da UFG, durante três períodos consecutivos entre 03/10 a 05/12/1997. Foram utilizadas nove cabras da raça Alpina com idade entre dois e quatro anos, da 2a a 4a ordem de parição e entre o 10o e 20o dia de lactação, distribuídas em um delineamento de blocos casualizados com três tratamentos e três repetições. A variável de blocagem adotada foi produção de leite. Cada tratamento foi submetido a um período de 21 dias, dos quais, os primeiros 14 dias foram destinados à adaptação dos animais às dietas, enquanto do 15o ao 21o dia procedeu-se a coleta de dados. As dietas que constituíram os tratamentos (Tabela 1) apresentavam uma relação volumoso:concentrado de 50:50 e foram fornecidas separadamente, 2 vezes ao dia.
Tabela 1: Composição percentual calculada para os tratamentos experimentais | |||
|
Tratamentos |
||
|
M0 |
M33 |
M67 |
Farelo de trigo |
5,5 |
5,5 |
5,5 |
MDPS |
67,0 |
45,0 |
22,0 |
Farelo de soja |
23,0 |
23,0 |
23,0 |
Milheto |
00,0 |
22,0 |
45,0 |
Uréia |
0,5 |
0,5 |
0,5 |
CaCO3 |
1,0 |
1,0 |
1,0 |
Sal mineralizado |
1,0 |
1,0 |
1,0 |
Óleo |
2,0 |
2,0 |
2,0 |
Total |
100,0 |
100,0 |
100,0 |
PB (%) |
17,8 |
18,1 |
18,4 |
Os concentrados isoprotéicos e isoenergéticos foram formulados para atender as necessidades nutricionais de produção de 2 kg/animal/dia, segundo Sanches et al (1985). As ofertas de silagem de milho foram ajustadas individualmente a cada dia, de forma a permitir seletividade pelos animais e sobras em torno de 20%. Os concentrados foram ajustados de acordo com a produção de leite. As amostras de silagem foram coletadas semanalmente, tomando-se uma sub-amostra composta ao final do experimento para fins de análise. A avaliação da produção e a coleta de amostras de leite foram efetuadas nos últimos sete dias de cada período experimental, sendo as amostras de leite compostas por dia e imediatamente analisadas quanto às características físico-químicas, considerando os parâmetros: densidade, acidez, gordura, crioscopia, extrato seco total, proteína bruta, extrato seco desengordurado e pH. Os dados obtidos foram analisados utilizando-se o programa estatístico Sistema de Análise de Variância de Dados Balanceados (SISVAR), de acordo com Ferreira (2000). Para comparação dos valores adotou-se o teste de Tukey e o nível de significância de 5%.
Os resultados das avaliações de produção de
leite e os parâmetros das características
físico-químicas podem ser observados na Tabela 2. As
análises de variâncias para as variáveis citadas
não apresentaram diferenças (P<0,05) entre os
tratamentos. Para a produção de leite, a inclusão de
67,0% de milheto na dieta se aproximou ao tratamento controle,
sendo apenas 15% inferior, sugerindo que o milheto pode substituir
o MDPS nas mesmas proporções, considerando que as
rações foram isoprotéicas e isoenergéticas. Os
resultados obtidos neste experimento são concordantes com os
trabalhos de França et al (1996), quando avaliaram o
desempenho de quatro grupos de cabras leiteiras recebendo
níveis de 0, 25, 50 e 75% de milheto grão mais
panícula em substituição ao MDPS (milho desintegrado
com palha e sabugo), não tendo sido observado diferença
(P<0,05) para produção de leite. Entretanto, em outro
trabalho também com cabras leiteiras, França et al
(1997) verificaram que a substituição de milho pelo
milheto grão na proporção de 0, 33, 66 e 99%,
não influenciaram significativamente a produção de
leite. Dentre as características físico-químicas
analisadas, apenas os teores de proteína bruta foi
influenciada pelos tratamentos aplicados (P<0,05), ou seja,
quanto maior o nível de substituição, maior foi a
produção de protína bruta do leite. Os resultados
obtidos por Gelaye et al (1997) quando avaliaram o valor
nutricional do milheto, utilizando dietas completas ou contendo
40,0% milho, 40,0% milheto ou 40,0% milho e milheto misturados na
proporção de 1:1 balanceados para conter 16% de
proteína e 2,24 Mcal de energia digestível/kg. Os autores
verificaram que em caprinos lactentes e em cabras em
lactação que o consumo de ração e a
produção de leite não foram afetados pela
inclusão do milheto na dieta. No entanto, Kichel et al
(1999) relatam que o uso do milheto na alimentação animal
é pelo menos equivalente ao milho e geralmente superior ao
sorgo, podendo substituir o milho em até 66%.
Quanto às características físico-químicas do leite, observa-se que os valores encontrados são semelhantes aos determinados nos trabalhos de França (1996 e 1997), quando avaliaram a substituição do milho pelo milheto em diferentes níves e estão próximos aos de Tanezine et al (2000), que avaliaram amostras de leite coletado de animais pertencentes à bacia leiteira de Goiânia, possibilitando informações básicas sobre a composição do leite de caprinos. Os valores encontrados para gordura, apresentaram acima da média normal, podendo estar relacionados com as diferenças nos tempos de lactação ou devido à inclusão de óleo na ração. A necessidade da inclusão de óleo, nas dietas contendo milheto é devido ao menor valor energético deste cereal em comparação ao milho grão, o que Fialho et al (1992) e Feedstuffs (1995) consideram uma limitação para rações com alta densidade calórica. A inclusão do milheto até ao nível de 67% não foi fator limitante de consumo, considerando que as quantidades ingeridas estiveram próximas às recomendadas por Sanches et al (1985) para cabras leiteiras de baixa produção.
Tabela 2. Valores médios de produção de leite, densidade, acidez, gordura, crioscopia, extrato seco total (Est), proteína (PB), extrato seco desengordurado (ESD) e pH do |
||||
|
Tratamentos |
|||
|
M0 |
M33 |
M67 |
CV |
Leite (kg/d) |
1,19 |
1,11 |
1,01 |
34,9 |
Densidade |
1,031 |
1,030 |
1,031 |
0,09 |
Acidez |
16,5 |
16,6 |
16,6 |
3,70 |
Gordura |
3,69 |
3,81 |
3,68 |
7,17 |
Crioscopia |
0,57 |
0,57 |
0,58 |
0,45 |
EST |
12,4 |
12,4 |
12,5 |
4,85 |
PB |
3,64 |
3,57 |
3,45 |
8,23 |
ESD |
8,79 |
8,68 |
8,88 |
3,37 |
pH |
6,40 |
6,38 |
6,40 |
1,32 |
O milheto grão pode ser utilizado em dietas de cabras
leiteiras em substituição ao MDPS, sem que haja
alteração na produção e nos componentes do
leite, até a proporção de 67%. Considerando que o
preço do milheto comercializado é aproximadamente 40%
mais barato que o milho, torna-se viável do ponto de vista
econômico esta substituição.
Andrews D J And Kumar K A 1992 Pearl millet for food, feed, and
forage. Advances in Agronomy, San Diego, v. 48, p. 89-139.
Received 9 April 2003; Accepted 13 November 2003